Causou grande indignação a decisão das autoridades edílicas de Genebra em transladar os restos mortais de Griselidis Real, conhecida lutadora pelos direitos e liberdade das trabalhadoras do sexo.
A indignação surgiu principalmente de movimentos e figuras femininas de relevo da sociedade Helvética.
A igreja Protestante de Genebra tem-se mantido cautelosa em tecer comentários sobre o sucedido.
As notícias que surgem destacam o facto de ter sido sepultada a escassos metros onde está o túmulo do conhecido reformador João Calvino.
Em todas as agências informativas surge o título: Prostituta sepultada ao lado de Calvino.
Tudo isto no ano que se celebram os 500 anos do nascimento de tão importante figura para o avanço da humanidade com o seu papel importantíssimo na reforma protestante.
Estas notícias suscitam alguns comentários; não por causa do acto em si - porque como a igreja Suíça refere - não é o solo que adquire um papel sagrado, por isso não há qualquer problema onde são sepultadas as pessoas. Esse é um problema que afecta mais a Igreja Católica Romana.
Mas o que surpreende é a decisão dos responsáveis Genebrinos em dar lugar na História a Griselidis, ao coloca-la no Cemitério dos Reis, onde figuras se distinguem pelo sua contribuição em favor da sociedade helvética, como Jean Piaget ou José Luís Borges - entre outros. (interessante a comunicação social destacar a proximidade com Calvino)
Esta decisão é sintomática e reveladora do estado de valores e princípios que uma sociedade e principalmente os seus representantes públicos podem chegar.
A honra que se atribui revela os padrões morais e o que valorizamos.
Não estranhou que tivessem sido principalmente mulheres a mostrar a sua indignação e com algumas acusações pouco abonatórias para os decisores públicos.
Jesus disse que não há profeta sem honra a não ser entre os seus conterrâneos.
Talvez este acto revele o estado da alma de um povo que precise -quem sabe - de outra reforma.
Se calhar agora percebemos porque Calvino foi tão rígido quando assumiu responsabilidades pastorais nesta cidade - ele devia conhecer bem como os cidadãos de Genebra seriam tão voláteis.
A mim não me incomoda nada o lugar onde descansam os mortos; incomodam-me mais as decisões irreflectidas dos vivos, porque todas as nossas opções são mensagens para as sociedades futuras.
Deus vos abençoe
João Pedro Robalo
terça-feira, 10 de março de 2009
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Caro Pr. João Pedro,
ResponderEliminarAo ler este texto, para além de ficar a saber algo novo e interessante não deixo de achar irónico que o homem que procurou a todo o custo e deixou em testamento que deveriam enterrá-lo num lugar incógnito no meio do povo, venha agora e cerca de 500 anos depois a ser notícia pela sepultura...
Talvez, quem sabe, os restos mortais que atribuem a Calvino e esteja em tão nobre sossego pertença afinal a um Lázaro de seu tempo.
Também sou de opinião que são os vivos que merecem a nossa atenção, e principalmente os que são professamente do Doador da Vida.
Outra reforma virá, nem que seja aquela última que será feita pelo próprio Cristo.
Abraços,
Nuno Pinheiro