Como sempre deixo o final de verão para tirar alguns dias de descanso, como tal, tenho publicado poucos textos neste espaço.
Espero que compreendam e em breve voltarei para reflectir, criticar, discordar, fazer pensar e sobretudo deixar mensagens de esperança.
Entretanto visitem o "site" da igreja: www.figueiraccva.org
Bem-hajam
João Pedro Robalo
sábado, 5 de setembro de 2009
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Equívocos Denominacionais
“O elemento curador (na igreja primitiva) foi a compreensão de que aproximar-se de Cristo reduzia a importância das diferenças humanas e aproximava também as pessoas umas das outras.”(Jimmy Carter, Os Valores em Perigo – a crise moral americana, Quidnovi, 2006)
Vivi grande parte da minha vida numa denominação evangélica em Portugal, desde a mais tenra infância.
Primeiro como crente comum, depois como membro activo da igreja que sempre fui, e finalmente como ministro do Evangelho, durante vários anos, tendo desempenhado cargos de elevada responsabilidade nas suas estruturas.
Conheço, portanto, os aspectos mais constrangedores e controversos do denominacionalismo evangélico português.
Acresce que a minha experiência em lidar com outras denominações, no âmbito de responsabilidades que fui assumindo no meio cristão, ao longo dos anos, permite-me ter hoje uma perspectiva geral das coisas.
A presente reflexão evidencia sobretudo alguns equívocos, erros ou fraquezas, consoante o ponto de vista, do percurso histórico das denominações, e que, nalguns casos, se prolongaram até à actualidade.
Eis alguns deles:
1.Confusão entre ortodoxia e rigidez doutrinária.
Ao contrário do que se pensa, quanto mais inseguro o ser humano é, quanto às suas convicções religiosas, mais se agarra a um sistema rígido de doutrina e prática. Circunstância essa que, levada ao extremo, desemboca num fanatismo militante, em nome da “sã doutrina”. Pelo contrário, quanto mais seguros estamos do que somos e daquilo em que cremos, mais liberdade pessoal desfrutamos para reflectir, indagar, questionar, pôr em causa e lidar com as dúvidas, que não só são legítimas como normais e naturais.
2.Primado da mediocridade.
Este equívoco decorre do anterior. Os mais inseguros, e portanto mais rígidos, acabam por gerar um sistema de poder, onde os mais capazes, mais indagadores e mais livres são sistematicamente marginalizados, já que assustam os inseguros com as suas indagações. É desse tipo de comportamento que procede a mediocridade, já que a rigidez não é criativa, nem inovadora nem adaptativa.
3.Confusão entre humildade, ignorância e cretinice.
A defesa acérrima e acéfala de normas humanas obsoletas, sem suporte bíblico sério, e racionalmente indefensáveis não é uma atitude inteligente nem séria. Confunde-se facilmente humildade com ignorância ou patetice. Ser humilde não é ser parvo ou descartável, é escolher rejeitar o orgulho e sujeitarmo-nos à vontade de Deus.
4.Confusão entre santificação e farisaísmo.
Constituindo este uma atitude religiosa de que resultam sempre posturas eivadas de hipocrisia. Ou seja, dito de outra forma, o farisaísmo defende o primado da aparência em detrimento da autenticidade e da essência. Como se vê, a natureza da atitude farisaica é radicalmente oposta ao cristianismo bíblico.
5.Sectarismo denominacional.
O espírito de seita ronda o denominacionalismo sempre que o espírito da exclusividade ortodoxa supera o espírito da unidade em Cristo, cegando as pessoas para a realidade espiritual a que o apóstolo Paulo denomina como “a multiforme graça de Deus” (1 Pedro 4:10). Todos têm o direito de crer, valorizar e defender pontos de vista estruturantes da sua denominação, e de defender um património histórico, desde que isso não os cegue para a evidência de que o Corpo de Cristo não se esgota nesses estritos limites.
6.Discriminação de género nos ministérios espirituais. A contínua desvalorização das mulheres no ministério é uma das fraquezas de algum denominacionalismo. Argumentos estafados, descontextualizados histórica, escriturística e teologicamente, obviamente procedentes de um machismo obsoleto, coartam assim o acesso de muitos dos melhores e mais preparados elementos da Igreja ao cabal desempenho dos dons, ministérios e vocações a que foram chamados por Deus. Há excepções, que apenas confirmam a regra (como é o caso da The Foursquare Church, Igreja do Evangelho Quadrangular, denominação pentecostal histórica, que foi fundada por uma mulher, a canadiana Aimee Semple McPherson, no ano de 1927, em Los Angeles). Mas este caso histórico ainda continua a constituir uma excepção.
7.Confusão entre doutrina e usos ou costumes.
As tradições e influências culturais misturam-se ainda com demasiada frequência com a vertente doutrinária, originando conflitos desnecessários. Alguns ainda não compreenderam que a doutrina é universal e eterna, mas a cultura (usos, costumes) é local e temporal, e que nem sempre o abraçar uma nova doutrina implica a adopção de uma nova cultura.
8.Confusão entre proselitismo e evangelismo.
Julgando que a função da Igreja é apenas arrebanhar acólitos, multiplicar os números, fazer prosélitos, despreza-se a influência dos cristãos na sociedade, e promove-se uma cidadania mitigada, ao desencorajar o envolvimento dos convertidos nas diversas dimensões da cidadania terrena, a par da sua edificação espiritual. Quando se fala de intervenção cultural, desportiva ou política então…
9.Ênfase doutrinária exagerada em aspectos distintivos.
Cada denominação tem a tendência para focar, de forma porventura menos equilibrada, os seus aspectos doutrinários distintivos, isto é, os aspectos doutrinários que a distinguem das outras. Como se o valor de uma igreja estivesse na sua origem e percurso histórico e não na Pessoa de Jesus Cristo enquanto sua centralidade. As igrejas não podem comportar-se como empresas que apostam na exclusividade ou nas características distintivas dos seus produtos a fim de conquistar o mercado.
10.Da falta de formação à formatação das lideranças.
Receio que se tenha passado da pura falta de formação da futura liderança para a sua formatação. As lideranças espirituais devem preparar-se o melhor possível para um mundo altamente desafiador, mas não é com cartilhas rígidas que o farão.
11.Lutas internas.
Qualquer organização cria as condições para que nela se venham a verificar atitudes de luta pelo poder, mais cedo ou mais tarde. Talvez por isso determinadas denominações auto-designam-se preventivamente como “movimentos do Espírito” e não denominações, ou recusam chamar pastores aos seus líderes. Mas o que conta não são as designações mas sim a postura.
12.Perspectiva providencial e messiânica.
A ideia de que nós é que estamos no caminho, enquanto todos os outros estão apenas à beira do caminho é doentia e presunçosa, mas infelizmente é corrente nalguns círculos. Tal como a ideia de que é a nossa denominação que vai converter o país e o mundo a Cristo, como se os outros cristãos e igrejas tivessem um papel meramente decorativo. Chega-se a afirmar que “o evangelho não chegou ainda” a esta ou aquela terra, mesmo quando se sabe que outras igrejas protestantes ou evangélicas lá estão radicadas e a trabalhar na promoção do reino de Deus…
13.Mentalidade imperial.
Critica-se a igreja romana pela sua estrutura e mentalidade imperial, mas na prática promove-se o mesmo, quando se reivindica “somos a maior denominação mundial”, ou “somos a igreja que mais cresce em todo o mundo”, e outros tiques imperialistas do género.14. Falta de amor e cuidado pelos fracos e caídos. É porventura a maior falha das igrejas locais. E isto em nome de uma disciplina que não visa a restauração da pessoa, mas sim o efeito de dissuasão que pode ter sobre a comunidade em geral e o reforço político da imagem da sua liderança espiritual, numa tentativa de preservação da realidade da denominação.
15.Tendência de exagero regulamentar.
Ao matar grande parte da criatividade e da iniciativa em nome dos regulamentos ou tradições, está-se a matar a vida de uma comunidade local. Quando se cortam à partida todas as ideias, por melhores que sejam, só porque “nunca se fez assim”, está-se a apelar ao espírito de “macaco de imitação”. Jesus nunca disse para nos imitarmos uns aos outros, mas Paulo apelou à imitação do próprio Cristo.
E isso é altamente desafiador.
Apesar de todo o respeito e gratidão que a Igreja do presente deve ter para com os seus líderes do passado, a verdade é que o tempo presente traz consigo novas exigências e requer uma nova mentalidade, ainda que os fundamentos permaneçam os mesmos. Exactamente por isso. É que os métodos, práticas e visões são temporais mas o fundamento eterno da doutrina de Cristo e dos Apóstolos nunca mudará.
Este Texto é da autoria do Pr. Brissos Lino, fonte:http://ovelhaperdida.wordpress.com
Vivi grande parte da minha vida numa denominação evangélica em Portugal, desde a mais tenra infância.
Primeiro como crente comum, depois como membro activo da igreja que sempre fui, e finalmente como ministro do Evangelho, durante vários anos, tendo desempenhado cargos de elevada responsabilidade nas suas estruturas.
Conheço, portanto, os aspectos mais constrangedores e controversos do denominacionalismo evangélico português.
Acresce que a minha experiência em lidar com outras denominações, no âmbito de responsabilidades que fui assumindo no meio cristão, ao longo dos anos, permite-me ter hoje uma perspectiva geral das coisas.
A presente reflexão evidencia sobretudo alguns equívocos, erros ou fraquezas, consoante o ponto de vista, do percurso histórico das denominações, e que, nalguns casos, se prolongaram até à actualidade.
Eis alguns deles:
1.Confusão entre ortodoxia e rigidez doutrinária.
Ao contrário do que se pensa, quanto mais inseguro o ser humano é, quanto às suas convicções religiosas, mais se agarra a um sistema rígido de doutrina e prática. Circunstância essa que, levada ao extremo, desemboca num fanatismo militante, em nome da “sã doutrina”. Pelo contrário, quanto mais seguros estamos do que somos e daquilo em que cremos, mais liberdade pessoal desfrutamos para reflectir, indagar, questionar, pôr em causa e lidar com as dúvidas, que não só são legítimas como normais e naturais.
2.Primado da mediocridade.
Este equívoco decorre do anterior. Os mais inseguros, e portanto mais rígidos, acabam por gerar um sistema de poder, onde os mais capazes, mais indagadores e mais livres são sistematicamente marginalizados, já que assustam os inseguros com as suas indagações. É desse tipo de comportamento que procede a mediocridade, já que a rigidez não é criativa, nem inovadora nem adaptativa.
3.Confusão entre humildade, ignorância e cretinice.
A defesa acérrima e acéfala de normas humanas obsoletas, sem suporte bíblico sério, e racionalmente indefensáveis não é uma atitude inteligente nem séria. Confunde-se facilmente humildade com ignorância ou patetice. Ser humilde não é ser parvo ou descartável, é escolher rejeitar o orgulho e sujeitarmo-nos à vontade de Deus.
4.Confusão entre santificação e farisaísmo.
Constituindo este uma atitude religiosa de que resultam sempre posturas eivadas de hipocrisia. Ou seja, dito de outra forma, o farisaísmo defende o primado da aparência em detrimento da autenticidade e da essência. Como se vê, a natureza da atitude farisaica é radicalmente oposta ao cristianismo bíblico.
5.Sectarismo denominacional.
O espírito de seita ronda o denominacionalismo sempre que o espírito da exclusividade ortodoxa supera o espírito da unidade em Cristo, cegando as pessoas para a realidade espiritual a que o apóstolo Paulo denomina como “a multiforme graça de Deus” (1 Pedro 4:10). Todos têm o direito de crer, valorizar e defender pontos de vista estruturantes da sua denominação, e de defender um património histórico, desde que isso não os cegue para a evidência de que o Corpo de Cristo não se esgota nesses estritos limites.
6.Discriminação de género nos ministérios espirituais. A contínua desvalorização das mulheres no ministério é uma das fraquezas de algum denominacionalismo. Argumentos estafados, descontextualizados histórica, escriturística e teologicamente, obviamente procedentes de um machismo obsoleto, coartam assim o acesso de muitos dos melhores e mais preparados elementos da Igreja ao cabal desempenho dos dons, ministérios e vocações a que foram chamados por Deus. Há excepções, que apenas confirmam a regra (como é o caso da The Foursquare Church, Igreja do Evangelho Quadrangular, denominação pentecostal histórica, que foi fundada por uma mulher, a canadiana Aimee Semple McPherson, no ano de 1927, em Los Angeles). Mas este caso histórico ainda continua a constituir uma excepção.
7.Confusão entre doutrina e usos ou costumes.
As tradições e influências culturais misturam-se ainda com demasiada frequência com a vertente doutrinária, originando conflitos desnecessários. Alguns ainda não compreenderam que a doutrina é universal e eterna, mas a cultura (usos, costumes) é local e temporal, e que nem sempre o abraçar uma nova doutrina implica a adopção de uma nova cultura.
8.Confusão entre proselitismo e evangelismo.
Julgando que a função da Igreja é apenas arrebanhar acólitos, multiplicar os números, fazer prosélitos, despreza-se a influência dos cristãos na sociedade, e promove-se uma cidadania mitigada, ao desencorajar o envolvimento dos convertidos nas diversas dimensões da cidadania terrena, a par da sua edificação espiritual. Quando se fala de intervenção cultural, desportiva ou política então…
9.Ênfase doutrinária exagerada em aspectos distintivos.
Cada denominação tem a tendência para focar, de forma porventura menos equilibrada, os seus aspectos doutrinários distintivos, isto é, os aspectos doutrinários que a distinguem das outras. Como se o valor de uma igreja estivesse na sua origem e percurso histórico e não na Pessoa de Jesus Cristo enquanto sua centralidade. As igrejas não podem comportar-se como empresas que apostam na exclusividade ou nas características distintivas dos seus produtos a fim de conquistar o mercado.
10.Da falta de formação à formatação das lideranças.
Receio que se tenha passado da pura falta de formação da futura liderança para a sua formatação. As lideranças espirituais devem preparar-se o melhor possível para um mundo altamente desafiador, mas não é com cartilhas rígidas que o farão.
11.Lutas internas.
Qualquer organização cria as condições para que nela se venham a verificar atitudes de luta pelo poder, mais cedo ou mais tarde. Talvez por isso determinadas denominações auto-designam-se preventivamente como “movimentos do Espírito” e não denominações, ou recusam chamar pastores aos seus líderes. Mas o que conta não são as designações mas sim a postura.
12.Perspectiva providencial e messiânica.
A ideia de que nós é que estamos no caminho, enquanto todos os outros estão apenas à beira do caminho é doentia e presunçosa, mas infelizmente é corrente nalguns círculos. Tal como a ideia de que é a nossa denominação que vai converter o país e o mundo a Cristo, como se os outros cristãos e igrejas tivessem um papel meramente decorativo. Chega-se a afirmar que “o evangelho não chegou ainda” a esta ou aquela terra, mesmo quando se sabe que outras igrejas protestantes ou evangélicas lá estão radicadas e a trabalhar na promoção do reino de Deus…
13.Mentalidade imperial.
Critica-se a igreja romana pela sua estrutura e mentalidade imperial, mas na prática promove-se o mesmo, quando se reivindica “somos a maior denominação mundial”, ou “somos a igreja que mais cresce em todo o mundo”, e outros tiques imperialistas do género.14. Falta de amor e cuidado pelos fracos e caídos. É porventura a maior falha das igrejas locais. E isto em nome de uma disciplina que não visa a restauração da pessoa, mas sim o efeito de dissuasão que pode ter sobre a comunidade em geral e o reforço político da imagem da sua liderança espiritual, numa tentativa de preservação da realidade da denominação.
15.Tendência de exagero regulamentar.
Ao matar grande parte da criatividade e da iniciativa em nome dos regulamentos ou tradições, está-se a matar a vida de uma comunidade local. Quando se cortam à partida todas as ideias, por melhores que sejam, só porque “nunca se fez assim”, está-se a apelar ao espírito de “macaco de imitação”. Jesus nunca disse para nos imitarmos uns aos outros, mas Paulo apelou à imitação do próprio Cristo.
E isso é altamente desafiador.
Apesar de todo o respeito e gratidão que a Igreja do presente deve ter para com os seus líderes do passado, a verdade é que o tempo presente traz consigo novas exigências e requer uma nova mentalidade, ainda que os fundamentos permaneçam os mesmos. Exactamente por isso. É que os métodos, práticas e visões são temporais mas o fundamento eterno da doutrina de Cristo e dos Apóstolos nunca mudará.
Este Texto é da autoria do Pr. Brissos Lino, fonte:http://ovelhaperdida.wordpress.com
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