sábado, 19 de setembro de 2009

Os Milagres não se Compram!

Hoje o cristianismo de pendor evangélico está a ser assaltado por oportunistas que trazem uma carga mercantilista para o seu seio.
Entre pequenos grupos, mas tristemente também entre grandes nomes e igrejas, o factor financeiro pesa e tornou-se o tema principal das mensagens e teologia que os caracteriza.

A ideia que, o milagre ou a bênção divinas se podem comprar, tornou-se comum e aceitável por muitos no seu seio, como algo normal, onde já não há qualquer pudor em se afirmar que tudo depende da nossa oferta, normalmente canalizada para projectos pessoais megalómanos.

É comum ouvir-se dizer: Mesmo que não tenha nada para dar, venha receber o seu milagre.
Os que afirmam isto fazem-no como pessoas misericordiosas, como se fosse um favor que prestam aos desfavorecidos.
O normal é "pagar" para receber o milagre, mas como são pessoas benevolentes e caridosas, abrem uma excepção final, para os que não podem dar nada devido à condição precária que atravessam. O problema é que aos ouvidos da maioria isto tornou-se banal.

Jesus, ao inverso deste ensino actual, não condicionou a cura às questões financeiras, mas à misericórdia e fé.
Em Mt.8.1-4 "Veio um leproso, e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo. Jesus estendeu a mão, e o tocou, dizendo: Quero, sê limpo! E imediatamente ficou limpo da lepra. Disse-lhe então Jesus: Olha, não o digas a ninguém, mas vai, mostra-te ao sacerdote e apresenta a oferta que Moisés ordenou, para lhes servir de testemunho." (Almeida Edição Contemporânea)

Após curar este leproso, Jesus ordenou-lhe, entre outras coisas, que fosse apresentar a oferta ordenada por Moisés (lei) para lhes servir de testemunho.

Esta ordem inversa, de acordo com os padrões actuais, mostra onde se insere a nossa oferta; não é um "negócio" ou "compra" de milagre, mas um testemunho pessoal da gratidão a Deus pelo milagre que fomos alvo.
A misericórdia divina atingiu-nos e pela fé fomos capazes de crer para a receber.

Não é a antecipação da oferta - como se fosse isso que movesse o coração e vontade divinas - que faz o milagre acontecer, mas será sempre um acto da misericórdia divina que, responde à fé depositada na palavra e promessas de Deus.

Ainda creio em milagres, Deus não entrou em crise nem perdeu a sua capacidade sobrenatural, mas não posso conformar-me com todo o "mercantilismo piedoso" à volta da miséria e necessidade que muitas pessoas se encontram.

A nossa oferta - os cristãos são pessoas que ofertam em gratidão e o fazem com generosidade - é um testemunho da graça e misericórdia divinas na nossa vida.
Essa foi a ordem de Jesus, não houve qualquer impedimento à cura por não ter sido ofertado nada antecipadamente, mas servia de testemunho que, algo tinha acontecido e poderia ser comprovado por todos.

Alguns arrogam-se de fazer "mover" Deus por causa da sua oferta, mas na Bíblia sempre a ordem é inversa: Não somos nós que damos o que quer que seja em primeiro lugar, mas apenas devolvemos a Deus o que já recebemos em abundância d'Ele.

Nunca seremos capazes de dar o que quer que seja a Deus; Ele é que nos dá tudo, nós apenas devolvemos parte, como sinal de testemunho e gratidão ao nosso providenciador da vida.

A minha oferta será sempre um testemunho e acto de gratidão da bondade, misericórdia e graça de Deus na minha vida.

Deus vos abençoe

João Pedro Robalo

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A Ética e a Moral

Estamos em plena campanha eleitoral para a eleição do novo parlamento para os próximos 4 anos.
Tenho lido e ouvido alguns comentários no meio evangélico sobre a possibilidade ou não de se tomar posições públicas a favor de uns em detrimento de outros.

Entre muitos comentários ressaltam algumas posições que desejam colar os cristãos às políticas de pendor moral em detrimento de outras.
O aborto, casamento entre homossexuais, laicismo, uso de células estaminais, etc. surgem como as bandeiras que pretendem condicionar a orientação do sufrágio entre os cristãos.

Ao ler a Bíblia, encontro uma maior preocupação do Autor que inspira os textos nas questões éticas - os aspectos sociais são fundamentais para Deus - que apenas nos aspectos morais.
Atenção, com isto não desvalorizo a importância do carácter cristão na sua luta Titânica contra o pecado; somos, e sempre seremos contra toda a manifestação do mal que procura humanizar actos que são hediondos e condenáveis, na qual, o aborto entre outros, se insere.

O que me incomoda é a mensagem que alguns cristãos evangélicos - principalmente líderes - querem fazer passar para condicionar o voto livre e consciente dos crentes.
Dizem eles que não se pode votar em políticas que são moralmente erradas mas, subtilmente, apelam ao voto em grupos que desvalorizam os aspectos sociais - éticos para mim - como algo subalterno ou inferior.

Para Deus este não é um assunto menos importante, aliás, foi a falha neste aspecto que condenou a nação da aliança - Israel - na sua missão, ao não cuidar dos órfãos, viúvas, estrangeiros e desfavorecidos, perderam a sua posição privilegiada diante do Senhor.
Aconselho a leitura, entre outras, as passagens: Ex.22.21-23; Lv.19.10 e seguintes; 23.22 e como a igreja neo-testamentária seguiu o mesmo padrão; Gl.2.9-10.

Não encontro na teologia bíblica uma desvalorização dos aspectos éticos em relação aos morais, antes pelo contrário, uns, os morais merecem uma reflexão pessoal constante, enquanto os outros, os éticos, são de carácter público e sobre os quais a igreja tem uma responsabilidade social de dar a resposta que a humanidade precisa; cuidar dos desfavorecidos.

Sl.140.12 "Sei que o Senhor concede justiça ao pobre, e sustenta a causa do necessitado"
Para Deus não me parece haver uma preocupação desmedida das questões morais em relação às éticas, parece-me que o contrário revela mais o paradigma bíblico.

A igreja "evangélica" tem perdido a sua voz e relevância na sociedade, quando tem trocado as prioridades e surge com posições situacionistas e retrógradas que, mais desejam manter tudo na mesma em vez de almejar uma sociedade mais igualitária e equitativa.

Os cristãos estão livres de fazer as suas escolhas partidárias sem qualquer anátema ou condicionalismo devido às questões morais, porque a nossa primeira obrigação bíblica deve-se com aspectos ético-sociais da sociedade onde temos a responsabilidade de ser luz e sal para a construção de uma nova sociedade na terra.

Precisamos mais de respostas éticas oferecidas ao mundo como o fez Dietrich Bonhoeffer, que a triste figura que os pastores americanos oferecem na sua colagem ao conservadorismo por questões morais.

Bem-haja

João Pedro Robalo