Sempre que nos aproxima-mos desta quadra, surgem as teorias de conspiração sobre tudo o que rodeiam as celebrações, os símbolos que a identificam e como foi construída toda a festa ao redor da celebração.
A data escolhida colhe a maioria das criticas, além da comercialização ao redor da festa, assim como a perda do significado do natal, ao ponto de haver quem acuse de celebrar o "aniversário" de Jesus, como se fosse isso que estivesse em causa.
Escrevo esta pequena reflexão, porque é da parte da nossa área cristã, de onde surgem as criticas mais ferozes e injustas à celebração do Natal.
Não posso deixar de concordar que alguma parte da mensagem principal do Natal, perdeu-se; melhor dizendo, esbateu-se perante outras figuras e símbolos comerciais, que o interesse económico impôs.
No, entanto, não são os exageros ou erros que me farão desviar da responsabilidade cristã em festejar uma das mais importantes datas do cristianismo.
A ÁRVORE
Uma das criticas que mais surge, o uso da árvore da natal como símbolo, atrai uma parafernália de suspeições e disparates.
Não vou discutir a possibilidade de origens pagãs que alguns invocam, não que consigam relacionar com o nosso uso do pinheiro de natal, mas relembrar que, segundo a tradição, foi o gigante da reforma Martinho Lutero que, pela primeira vez trouxe para o seu lar um ramo de abeto o enfeitou com velas e papeis coloridos para celebrar em família a data do nascimento de Jesus.
Se conseguirem ligar Lutero a qualquer prática de paganismo ou idolatria, então talvez possamos olhar para o pinheiro de natal desse prisma.
Claro está que para alguns Lutero foi apenas um sujeito que deu uma "mãozinha" para nos emanciparmos do catolicismo doentio em que a cristandade havia caído.
Para reforçar, convido os meus amigos estudiosos da Bíblia, a verificarem quantos encontros com seres celestiais os patriarcas tiveram debaixo de árvores, onde em alguns casos assumiam um significado simbólico de lugar de adoração do verdadeiro Deus.
Como vêem, não precisamos ir às práticas pagãs para encontrar similaridade em alguns símbolos que hoje adoptamos.
OS PRESENTES
A troca de presentes, para alguns, também tem origem em todas as religiões pagãs, menos na Bíblia. Dá vontade perguntar se quem afirma tal lê as Sagradas Escrituras.
Não me vou refugiar no facto dos mágicos vindos do oriente o fazerem - não eram três, nem Reis e não surgiram na noite do nascimento do Salvador - mas oferecer presentes e troca simultânea, era uma prática judaica em certas festividades, as quais ainda hoje algumas delas são mantidas.
Esdras e Neemias incentivaram o povo que se encontrava em lágrimas e profunda comoção, para celebrarem o dia do Senhor com alegria e festa, enviando porções a quem não tinha nada para o fazer.
Se acham hipócrita esta reciprocidade egoísta de troca de presentes - por vezes é - está nas mãos de cada um a oportunidade de fazer diferente. Envie algo a quem nada tem, convide alguém para se juntar a si, construa algo diferente neste natal.
A DATA
A data é talvez o aspecto mais controverso a respeito do nascimento de Jesus. Aprendi desde cedo que esta não seria a data mais apropriada para o fazer, porque seria impossível Jesus ter nascido neste período do ano. (Os pastores estavam no campo, que inviabilizaria a possibilidade de Dezembro)
Não posso garantir que a escolha da data seja inocente, mas não pelas causas que alguns advogam.
Temos uma prática cristã bem enraizada de tomar datas, lugares e símbolos de religiões e cultos pagãos, não para sincretismo, mas demonstrar a superioridade do Deus que adoravam.
Acontece que, de onde menos se esperava surgem agora dados que podem oferecer à data possibilidade verosímil.
O professor S. Talmon da Universidade de Jerusalém, baseado em documentos encontrados em Qumran, conseguiu precisar as 24 ordens cronológicas das classes sacerdotais.
A de Abias é que nos interessa, porque com esta ajuda sabemos que o pai de João Baptista, Zacarias, terá servido no templo entre 23 a 25 de Setembro.
Este anuncio da concepção de Isabel que, de acordo com o Evg. de Lucas, nos oferece a precisão cronológica difereniada em seis meses em relação à concepção de Maria, o que aponta o nascimento de Jesus para o mês de Dezembro.
CELEBRAR O NATAL
Seguindo o significado etimológico da palavra natal temos o que celebramos nesta data: O nascimento do Salvador.
Não é um aniversário, mas a celebração da vinda à terra em forma milagrosa e única - como Kaesman refere; irrepetível - do Verbo que encarnou, para nos salvar.
Deus não podia deixar que este evento fosse deixado ao acaso, por isso, os anjos - em número elevado - visitam os pastores e os convidam a juntar-se aos pais jovens naquela noite.
Não sei se isto lhe é relevante, mas Deus organizar esta festa e alarido, não foi de certo um equívoco ou inocente.
A mim é suficiente para escolher alguma data do ano e lembrar que, em dado momento crucial da História o céu invadiu a terra, ainda que de forma frágil e humilde, alterando para sempre o curso da mesma.
"Glória a Deus nas maiores alturas, paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem" Lc.2.14
Posso celebrar o nascimento de Jesus em qualquer altura do ano, mas se à tradição juntar a possibilidade de ser no momento certo, ainda melhor.
Celebrar o natal é celebrar a boa vontade divina que resulta em esperança para a humanidade.
Que me desculpem todos os detractores da festa do natal - aqueles que tentam desvalorizar esta celebração universal, ou os que despem de sentido o significado do mesmo com consumismos descontrolados - mas neste natal, ainda por cima à espera de mais um membro para a família, vou festejar com alegria e com toda a gratidão pela dádiva de Deus ao mundo.
Continuo, e continuarei a celebrar esta quadra com consciência do seu real e verdadeiro valor: A salvação chegou até nós, "porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu..." Is.9.6
Bem-haja
João Pedro Robalo
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
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