Hoje o cristianismo de pendor evangélico está a ser assaltado por oportunistas que trazem uma carga mercantilista para o seu seio.
Entre pequenos grupos, mas tristemente também entre grandes nomes e igrejas, o factor financeiro pesa e tornou-se o tema principal das mensagens e teologia que os caracteriza.
A ideia que, o milagre ou a bênção divinas se podem comprar, tornou-se comum e aceitável por muitos no seu seio, como algo normal, onde já não há qualquer pudor em se afirmar que tudo depende da nossa oferta, normalmente canalizada para projectos pessoais megalómanos.
É comum ouvir-se dizer: Mesmo que não tenha nada para dar, venha receber o seu milagre.
Os que afirmam isto fazem-no como pessoas misericordiosas, como se fosse um favor que prestam aos desfavorecidos.
O normal é "pagar" para receber o milagre, mas como são pessoas benevolentes e caridosas, abrem uma excepção final, para os que não podem dar nada devido à condição precária que atravessam. O problema é que aos ouvidos da maioria isto tornou-se banal.
Jesus, ao inverso deste ensino actual, não condicionou a cura às questões financeiras, mas à misericórdia e fé.
Em Mt.8.1-4 "Veio um leproso, e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo. Jesus estendeu a mão, e o tocou, dizendo: Quero, sê limpo! E imediatamente ficou limpo da lepra. Disse-lhe então Jesus: Olha, não o digas a ninguém, mas vai, mostra-te ao sacerdote e apresenta a oferta que Moisés ordenou, para lhes servir de testemunho." (Almeida Edição Contemporânea)
Após curar este leproso, Jesus ordenou-lhe, entre outras coisas, que fosse apresentar a oferta ordenada por Moisés (lei) para lhes servir de testemunho.
Esta ordem inversa, de acordo com os padrões actuais, mostra onde se insere a nossa oferta; não é um "negócio" ou "compra" de milagre, mas um testemunho pessoal da gratidão a Deus pelo milagre que fomos alvo.
A misericórdia divina atingiu-nos e pela fé fomos capazes de crer para a receber.
Não é a antecipação da oferta - como se fosse isso que movesse o coração e vontade divinas - que faz o milagre acontecer, mas será sempre um acto da misericórdia divina que, responde à fé depositada na palavra e promessas de Deus.
Ainda creio em milagres, Deus não entrou em crise nem perdeu a sua capacidade sobrenatural, mas não posso conformar-me com todo o "mercantilismo piedoso" à volta da miséria e necessidade que muitas pessoas se encontram.
A nossa oferta - os cristãos são pessoas que ofertam em gratidão e o fazem com generosidade - é um testemunho da graça e misericórdia divinas na nossa vida.
Essa foi a ordem de Jesus, não houve qualquer impedimento à cura por não ter sido ofertado nada antecipadamente, mas servia de testemunho que, algo tinha acontecido e poderia ser comprovado por todos.
Alguns arrogam-se de fazer "mover" Deus por causa da sua oferta, mas na Bíblia sempre a ordem é inversa: Não somos nós que damos o que quer que seja em primeiro lugar, mas apenas devolvemos a Deus o que já recebemos em abundância d'Ele.
Nunca seremos capazes de dar o que quer que seja a Deus; Ele é que nos dá tudo, nós apenas devolvemos parte, como sinal de testemunho e gratidão ao nosso providenciador da vida.
A minha oferta será sempre um testemunho e acto de gratidão da bondade, misericórdia e graça de Deus na minha vida.
Deus vos abençoe
João Pedro Robalo
sábado, 19 de setembro de 2009
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