domingo, 21 de fevereiro de 2010

Guerras e Rumores de Guerras!

Escutei com perplexidade, uma "revelação" que me espantou, pela ousadia, num programa de cariz evangélico televisivo, alguém com reconhecida capacidade afirmou ter compreendido pela primeira vez o sentido da expressão bíblica: "Guerras e rumores de guerras!"

De acordo com o proponente, quando os evangelistas falam de "rumores de guerras" é uma referência directa ao surgimento do terrorismo, agora um assunto tão pertinente nos meios de comunicação.

São "revelações" deste género que tiram crédito à Palavra de Deus. Quando se procura actualizar as profecias de Jesus, consoante vão surgindo novidades, ou novos contornos da história, que precisam encaixar na escatologia pré-determinada, para que continuem a fazer sentido, as previsões que já tantas vezes falharam, só podemos lamentar e não deixar de denunciar.

Tanto no Evg. de Marcos, como de Mateus, onde surge esta palavra "rumores" no grego «akoë» que transmite a ideia de: Ouvir, ou o acto de escutar algo; nada procura transmitir além de um reforço de todo o ambiente aterrador que qualquer guerra, ou informação sobre essa possibilidade transmite aos ouvintes dessa realidade terrível e próxima.

No Evg. de Lucas, a palavra é substituída por «Revoluções», "Akatastasia" que realça o sentido de: Confusão, instabilidade ou tumultos.

Poderão argumentar que escutar algo que aterroriza, cria instabilidade ou gera tumultos, pode ser interpretado com actos de terrorismo. Eu contra-argumento com o facto que as guerras e qualquer ideia da sua proximidade fazem o mesmo, não me parece necessário fazer este "ajuste" mediático e oportuno para algo que deve ser mantido do seu sentido original e primário tendo em vista o primeiro ouvinte como regra de uma boa interpretação.

O que mais me incomoda nesta facilidade interpretativa, é o conceito que a rege, ou seja, quando surge uma ideia, mesmo que não se consiga contextualizar, nem fortalecer com base bíblica, por "encaixar" ou ser original, passa a ser tida como fidedigno ou "revelação" final.

A Palavra de Deus não pode ser tida com esta leviandade, não pode andar ao sabor dos caprichos interpretativos de cada um, tem de ser respeitada e honrada com tal, ou seja; como Palavra de Deus que é na realidade.
Este é o único caminho para que, os que nos escutam percebam o valor que lhe atribuímos e o respeito que lhe temos, ao ponto de não acrescentar, nem tirar nada além do que nos transmite.

A interpretação que fazemos dos chamados "Fins dos Tempos", revela o respeito e compromisso que temos com as Escrituras Sagradas, pois não forçar o texto de forma que encaixe na nossa escatologia, revela até que ponto a Bíblia é ou não para nós na sua totalidade, sem qualquer reticência, a Palavra de Deus.

Este relato de Jesus, como profeta que é, sobre o que é chamado vulgarmente de "A Grande Tribulação" foi delimitado no tempo e espaço, ao contrário que muitos fazem, alargando e estendendo no tempo e espaço a sua realização.

Mt.23.36 "Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre esta geração"
O discurso que antecede os pormenores deste tempo que seria encurtado por causa dos santos, começa com uma afirmação temporal que procura situar o relato dos acontecimentos a uma geração, não para além dela, nem estendida no tempo sem definição clara.
Mt.24.34 "Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam"
Para não existir dúvidas sobre o tempo a que estes acontecimentos se devem encaixar, não ir para além deles, Jesus reforça esta ideia geracional para o seu cumprimento.

Já naquele tempo haviam actos que podem ser considerados terroristas, ao ler Flávio Joséfo, somos confrontados com relatos entre os judeus da geração terminal, que insensíveis ao sofrimento do seu próprio povo, por questões de fanatismo religioso e político, auto-destruíram-se de formas ignóbeis e desumanas.
Contudo, não posso afirmar que é uma referência clara a esse tipo de acções, pois seria forçar o texto ou perder esta objectividade de compromisso com a Palavra de Deus.

Nos dias actuais, as previsões Maias, Nostradamus, islâmicas ou até evangélicas de teor dispensacionalista - há muitos evangélicos que são pós-milenistas ou preteristas - não me incomodam nem deixam perturbado, aliás, se observarem com atenção é essa a intenção de Jesus, sossegar os seus discípulos, e, é porque estou seguro que o tempo para se cumprirem estas guerras e os rumores delas, foram para um determinado tempo bem definido pelo Messias, que permaneço seguro sem perturbação, mesmo com relatos noticiosos devastadores.

Considero ser de maior valor e integridade intelectual aceitar que Jesus sabia definir tempo, por isso, não fez estas afirmações com segundas intenções, nem para cada geração achar que é o seu tempo onde as tais profecias devem ser enquadradas.
Acho até ser de uma certa presunção considerar que é sempre o seu tempo onde estes acontecimentos se dão.

É certo que iremos escutar sobre guerras, talvez não tão destrutivas como no passado recente, apesar do arsenal existente para tal, mas daríamos um melhor contributo se não forçássemos o texto, só para encaixar um ideia que nos surgiu, ou pior, querer ter protagonismo neste assunto.

Tal como foi objectivo de Jesus, sempre que tocou estas questões, fê-lo, para deixar os cristãos tranquilos e em paz perante qualquer incidente que surja, da mesma maneira, quando decidi escrever sobre o que escutei, sem nomear ninguém, porque não é uma questão pessoal, mas de conceitos, espero ter ajudado a sossegar a alma de cada um.

Bem-haja

João Pedro Robalo

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